No baú da minha casa
Escutei um burburinho
Parecia uma conversa
Fui chegando de mansinho
E colei o meu ouvido
Na tampa do bauzinho
Então abri uma brecha
Para poder descobrir
O que estava acontecendo
Para ver além de ouvir
E pensei comigo mesma:
“O baú eu vou abrir!”
Qual não foi minha surpresa
Quando vi a discussão
Entre um monte de brinquedos
Na maior agitação!
Uns gritavam, outros riam
Era grande a confusão!
Logo vi Mané Gostoso
Fazendo uma estripulia
Dizendo: “sou acrobata!
Muita gente me aplaudia!
Posso até virar atleta!”
E alguém gritou: “mái pia!”
Depois o Pião falou:
E eu sou equilibrista
Rodo, rodo e não caio
Sou melhor e não insista
Nessa caixa de brinquedos
Eu sou verdadeiro artista!
A Peteca remendou:
“Eu sou bem mais divertida!
Pulo de uma mão pra outra
Tenho penas coloridas
Nunca canso de brincar
Tenho fama merecida!”
Depois veio o Iôiô
Com a fala repartida
Subia dizendo coisa
Completava na descida
Eu que nunca tinha visto
Uma coisa parecida:
“Pois comigo
.[a criançada
Tem que ter
.[habilidade
Sou brinquedo
.[que de todos
É o que tem
.[mais qualidade
Pra brincar
.[tem que treinar
Não importando
.[a idade!”
O Rói-rói já se roía
Pra falar desaforado
E então soltou o verbo
De um jeito malcriado:
“Eu sou quase um instrumento!
O meu jogo é musicado!”
E por fim o Cata-vento
Com frases assobiadas:
“A beleza que eu tenho
nunca vai ser comparada
a criança que me sopra
fica logo deslumbrada!”
Então tive que intervir
E dar minha opinião:
“Ei vocês, estão me ouvindo?
Eu falo de coração!
Todos são muito queridos
Prestem muita atenção!”
“Não há como comparar
Cada qual tem o seu dom
Não existe essa coisa
De um ruim e outro bom!”
Acho que eles entenderam
E abaixaram logo o tom
Começaram a sorrir
E disseram: “Obrigado!”
Eu fiquei ali brincando
com o baú encantado
Como se naquele instante
O tempo houvesse parado!
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