A pata, toda orgulhosa,
acomodou-se no ninho
esquentou todos os ovos
para ter os seus filhinhos
esperou com paciência
ficando na indolência
à espera dos bebezinhos
Os dias foram passando
e ela continuava lá
vinha o dia depois da noite
ela no ninho a esperar
em pouco toda ninhada
viria alvoroçada
só lhe restava esperar
O dia finalmente chegou
nasceram vários patinhos
suas amigas vibraram
correram a ver os bichinhos
tinham a carinha da mãe, ai!
nenhum parecia com o pai
eram todos tão fofinhos
Logo estavam correndo
na direção do laguinho
a mãe pulou solta na água
logo depois os patinhos
quando contou seus filhotes
na contagem e no rebote
faltava um dos bichinhos
e lá estava o coitadinho
sem coragem para entrar
ficou na margem sozinho
foi até lá e o encorajou
bem delicada o empurrou
e ele caiu no laguinho
Mas, coitado do patinho
estava se afogando
caiu n'água desajeitado
e nadar estava tentando
seus irmãos todos fagueiros
gargalhando zombeteiros
ficavam dele zoando
Depois, já equilibrado,
atrás dos outros nadando
lá se foi todo contente
a mãe já n'água liderando
mas sem ter tanta destreza
nadando nada beleza
para trás ia ficando
Não ficou somente nisso
os dias foram passando
enquanto os filhos cresciam
mamãe pata foi notando
que o filho deselegante
mudava a todo instante
ficava sempre mudando
Maior do que os seus irmãos
com asas desengonçadas
que lembravam para-quedas
e pareciam engraçadas
Era todo diferente
qualquer mãe depressa sente
havia coisas erradas
Nem parecia seu filho
quac quac ele não fazia
grasnava tão esquisito
ela nem reconhecia
pois o jeito como a chamava
já nem de longe lembrava
o filho que tanto queria
O patinho também percebeu
e se sentiu abandonado
ninguém brincava com ele
ficou marginalizado
um dia nada contente
viu que era diferente
e lamentou inconformado
Querendo saber o motivo
de tanta discriminação
junto à margem do laguinho
tentando a melhor posição
procurou ver seu semblante
e naquele mesmo instante
compreendeu a situação
Não era igual aos demais
isso ele compreendeu
tinha muitas diferenças
doía, mas reconheceu
melhor ir logo embora
ir pelo mundo afora
esse lugar não era seu
Não queria despedida
aumentaria mais o sofrer
juntaria seus trapinhos
partindo ao amanhecer
por ser um feio patinho
viveria tão sozinho
talvez fosse melhor morrer
Mas não pensaria nisso
andaria na floresta
no anelo de esquecer
um dia tudo foi festa
quem ele tinha amado
o havia desprezado
que mais na vida lhe resta?
Antes que o sol despontasse
sua trouxinha amarrou
olhou para a mãe e seus irmãos
"oh que insuportável dor!"
ainda tentou segurar
mas não pode aguentar
enquanto se ia, chorou
Passou longe do laguinho
não pretendia mais olhar
porque a água lhe mostrava
sua feiúra sem par
pra que sofrer novamente?
Era mesmo diferente
melhor não se reencontrar
Foi seguindo seu caminho
não tinha um rumo certo
qualquer lugar serviria
o matagal, um pobre teto
e pensou firme no coração
de sua mãe e nenhum irmão
não chegaria mais perto
Próximo a um grande rio
um alvoroço escutou
escondeu-se no matagal
temeroso ele olhou
vendo pássaros, milhares
brancos, lindos, aos pares
tanta beleza o encantou
Que majestosas figuras
de porte tão elegante
sim, enormes, bem charmosas
que fascínio mais tocante
"parecem alguém que já vi
será impressão que senti?"
pensou o patinho distante
"Saia de trás desse mato"
perto dele alguém falou
"por que não brinca conosco?"
A voz gentil ele escutou
não conseguindo entender
que nada havi'a temer
só amizade encontrou
"Quem são e de onde vieram?"
Ele pode balbuciar
o outro pensou admirado:
"estranho modo de falar"
"somos cisnes, você também
venha, vamos lá brincar, vem!
logo ao Sul vamos voltar"
O triste pretenso patinho
compreendeu de repente
por que daquela família
ele era diferente
e veio a verdade de fato
era um cisne, não pato
e lá se foi ele contente
Gilbamar de Oliveira Bezerra
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